Seu Chico.




O Meu Amor

Chico Buarque

Composição: Chico Buarque

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh’alma se sentir beijada

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

Poesia musicada

Para Viver Um Grande Amor

Vinicius de Moraes

Composição: Vinicius de Moraes / Toquinho

Cantado

Eu não ando só
Só ando em boa companhia
Com meu violão
Minha canção e a poesia

Falado

Para viver um grande amor, preciso
É muita concentração e muito siso
Muita seriedade e pouco riso
Para viver um grande amor
Para viver um grande amor, mister
É ser um homem de uma só mulher
Pois ser de muitas – poxa! – é pra quem quer
Nem tem nenhum valor
Para viver um grande amor, primeiro
É preciso sagrar-se cavalheiro
E ser de sua dama por inteiro
Seja lá como for
Há de fazer do corpo uma morada
Onde clausure-se a mulher amada
E postar-se de fora com uma espada
Para viver um grande amor

Para viver um grande amor direito

Não basta apenas ser um bom sujeito
É preciso também ter muito peito
Peito de remador
É sempre necessário ter em vista
Um crédito de rosas no florista
Muito mais, muito mais que na modista
Para viver um grande amor
Conta ponto saber fazer coisinhas
Ovos mexidos, camarões, sopinhas
Molhos, filés com fritas, comidinhas
Para depois do amor
E o que há de melhor que ir pra cozinha
E preparar com amor uma galinha
Com uma rica e gostosa farofinha
Para o seu grande amor

Cantado

Eu não ando só
Só ando em boa companhia
Com meu violão
Minha canção e a poesia

Poetinha


A ausente

Amiga, infinitamente amiga
Em algum lugar teu coração bate por mim
Em algum lugar teus olhos se fecham à idéia dos meus.
Em algum lugar tuas mãos se crispam, teus seios
Se enchem de leite, tu desfaleces e caminhas
Como que cega ao meu encontro…
Amiga, última doçura
A tranqüilidade suavizou a minha pele
E os meus cabelos. Só meu ventre
Te espera, cheio de raízes e de sombras.
Vem, amiga
Minha nudez é absoluta
Meus olhos são espelhos para o teu desejo
E meu peito é tábua de suplícios
Vem. Meus músculos estão doces para os teus dentes
E áspera é minha barba. Vem mergulhar em mim
Como no mar, vem nadar em mim como no mar
Vem te afogar em mim, amiga minha
Em mim como no mar…

Vinícius de Moraes


Carta de Vinícius de Moraes a Tom Jobim:


Porto do Havre, 7 de setembro de 1964

Tomzinho querido,

Estou aqui num quarto de hotel, que dá para uma praça, que dá para toda solidão do mundo.

São 10 horas da noite, e não se vê vivalma.

Meu navio só sai amanhã à tarde e é impossível alguém estar mais triste do que eu.

E como sempre, nestas horas, escrevo para você cartas que nunca mando.

Deixei Paris para trás com a saudade de um ano de amor, e pela frente, tem o Brasil, que é uma paixão permanente em minha vida de constante exilado.

A coisa ruim é que hoje é 7 de setembro, a data nacional, e eu sei que em nossa embaixada há uma festa, que me cairia muito bem, com o Baden mandando brasa no violão.

Há pouco telefonei para lá para cumprimentar o embaixador, e veio todo mundo ao telefone.
Estão queimando um óleo firme!

Você já passou um 7 de setembro Tomzinho, sozinho, num porto estrangeiro, numa noite sem qualquer perspectivas? É fogo maestro!

Estou doido para ver você e Carlinhos e recomeçar a trabalhar. Imagine que este ano foi praticamente dedicado ao Baden, pois Paris não é brincadeira! Mas agora o Tremendão aconteceu mesmo! A Europa teve que curvar-se! Mas ainda assim, fizemos umas músiquinhas, como “Formosa“. Você vai ver! Tudo sambão! Parece até que a saudade do Brasil quando a gente está longe, procura mais a forma do samba tradicional do que a Bossa Nova; não é engraçado? São como diria o Lucio Rangel: “as raízes!”.

Vou agora escrever para casa, pedindo dois menus diferentes para minha chegada. Para o almoço, um tutuzinho com torresmo, um lombinho de porco bem tostadinho, uma couvinha mineira e, doce de coco. Para o jantar, uma galinha ao molho pardo, com arroz bem soltinho e, papos de anjo. Mas daqueles que só a mãe da gente sabe fazer! Daqueles, que se a pessoa fosse honrada mesmo, só devia comer, metida em banho morno, em trevas totais, pensando no máximo, na mulher amada. Por aí, você vê como estou me sentindo; nem cá, nem lá!

Fiquei muito contente com o sucesso de Garota de Ipanema“, nos Estados Unidos. E Astrudinha, hein? Que negocio tão direito. Vamos ver se desta vez, os intermediários deixam “algum” para nós!

Fiquei muito contente também, com a noticia do sucesso de “Berimbau” aí no Brasil. Dizem que estão tocando a músiquinha “pra valer”! Isso me alegra muito pelo Baden. E pra que mentir? Por mim também! É bom saber que a gente não foi esquecido, que o povo continua cantando as nossas coisas; pois no fundo mesmo, é pra ele que a gente compõe! Lembro-me tão bem, quando fizemos o samba, uma madrugada, há uns 3 anos atrás, por aí. Eu disse ao Baden: isso tem pinta de sucesso. E ficamos cantando e cantando o samba até o sol raiar.

“Quem é homem de bem não trai o amor que lhe quer seu bem.

Quem diz muito que vai não vai, assim como não vai, não vem.

Quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar ninguém.

O dinheiro de quem não dá, é o trabalho de quem não tem.

Capoeira que bom, não cai, e se um dia ele cai, cai bem.

Capoeira me mandou, dizer que já chegou, chegou para lutar.

Berimbau me confirmou, vai ter briga de amor, tristeza, camará.”

Vinicius.

Lô Borges


Um dos compositores mais fantásticos que já ouvi, e um dos caras que aprendi a admirar pela simplicidade e despojamento, graças a ele, incorporei Minas Gerais entre meu próximos destinos, mais especificamente Tirandentes, Mariana, São João Del rey…

Ouvindo as músicas de Lô, sinto saudades de Minas, embora nunca tenha passado por lá… Sou invadido pela sensação de algo muito especial me espera em alguma esquina de alguma cidade histórica, de que esqueci alguma coisa em alguma lugar por ali, e que preciso urgentemente voltar pra buscar.

Já se sentiu assim? É estranho sim, mas é gostoso de sentir e num faz mal nenhum.

Essa música do Lô Borges com Ronaldo Bastos, é uma das mais fantásticas que já ouvi, uma obra prima; que certamente levarei comigo pro resto da vida, e que sempre fará parte da minha trilha sonora romântica. Linda, apenas linda.

SONHO REAL
LÔ Borges – Ronaldo Bastos

A primeira vista
A paixão não tem defesa
Tem de ser um grande artista
Pra querer se segurar
Faz tremer a perna
Faz a bela virar fera
Quando alguém que a gente espera
Quer se chegar


Só de pensar
Já me faz mais feliz
Nem bem o amor começa
Eu já quero bis


Ilusão tão boa
Quanto o astral de uma pessoa
Chega junto, roça a pele
E já quer se enroscar
Lê seu pensamento
Paralisa seu momento
Ao se encostar


Felicidade pode estar pelo sim
Às vezes do seu lado
Tem alguém afim


Vem andar comigo
Numa beira de estrada
Desse lado ensolarado
Que eu achei pra caminhar
Vem meu anjo torto
Abusar do meu conforto
Ser meu bem em cada porto
Que eu ancorar


Sonho real faz surpresa pra mim
e transe o meu destino com alguém assim


Chega e instala a beleza
Momento de sonho real


Assista aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=vi_wtIOq5TM&feature=related